Paquerar, namorar, casar e ficar o resto da vida com uma só pessoa, que é o seu único e verdadeiro amor, daqui até o fim dos dias.
Se esse era o sonho dourado de 9 em cada 10 mulheres há algum tempo atrás – até porque o casamento era o grande objetivo de vida da mulher – hoje as coisas são muito diferentes.
Nos últimos 100 anos as conquistas das mulheres foram inúmeras: direito ao voto, entrada no mercado de trabalho, a revolução sexual, métodos anticoncepcionais ao alcance de todas…
E isso, é claro, gerou uma enorme mudança nos padrões de relacionamento aceitos, reconhecidos e desejados pelas pessoas.
Afinal, cada um é cada um. Cada pessoa tem um estilo de vida, seus gostos, suas manias, seus sonhos, e por aí vai…
Então, por que o modelo de relacionamento deve ser um só para todo mundo?
Provavelmente você já ouviu falar em monogamia e poligamia. Mas… e a agamia, você conhece? Ficou curiosa?
É só continuar lendo:
O que é agamia:
Você encara o namoro (com uma ou com mais pessoas) como uma espécie de “test-drive” para o casamento?
Pois isso tem um nome, sabia? Chamamos de gamos a união entre pessoas que têm o casamento como referência… ou, pelo menos, como um possível objetivo para o relacionamento.
A maneira como entendemos as relações afetivas é, em grande parte, influenciada pelo amor romântico, de preferência acompanhado pela famosa frase “… e viveram felizes para sempre”.
Ou seja: nós achamos que o natural é ficar com uma pessoa, dividindo o mesmo teto, até o fim dos tempos.
Embora diversos outros modelos estejam surgindo, como a poligamia, as relações abertas e a anarquia relacional, todos eles têm uma coisa em comum: o casamento como referência de ideal.
Já a agamia prega a ausência do gamos, ou seja, do modelo de casamento norteando as relações.
Isso quer dizer que a agamia rejeita a ideia de que a qualidade, a intimidade ou qualquer outro aspecto de um relacionamento deve ser medido de acordo com a semelhança a um namoro ou casamento.
Mas, antes de continuarmos a conhecer mais sobre a agamia… Quais são os outros tipos de relacionamento?
Conheça os diferentes tipos de modelo relacional
As formas de se relacionar são bem mais diversas do que imaginamos. Mas… será que todos os modelos relacionais são gâmicos?
- Monogamia:
Essa é a mais tradicional. Monogamia é quando a pessoa se relaciona apenas com um parceiro. Os relacionamentos monogâmicos costumam ser exclusivos tanto romanticamente quanto sexualmente.
- Poligamia:
É quando uma pessoa tem mais de um parceire conjugal.
Nas sociedades poligâmicas apenas um dos gêneros pode ter mais de um relacionamento conjugal.
As relações poligâmicas podem ser de dois tipos:
A poliginia, que acontece quando um um homem tem duas ou mais esposas ao mesmo tempo;
A poliandria, que é quando uma mulher tem dois ou mais maridos simultaneamente.
Como grande parte das sociedades é patriarcal, na maioria dos casos apenas o homem pode ter várias esposas.
- Poliamor:
No poliamor as pessoas têm relações sexuais ou afetivas com mais de um indivíduo.
Os poliamoristas acreditam que é possível ter sentimentos e intimidade com mais de uma pessoa.
Na maior parte dos relacionamentos abertos só é permitido se relacionar com outras pessoas sexualmente.
Já os poliamoristas acreditam que é possível dividir também o afeto e, em muitos casos, a conjugalidade, com mais de uma pessoa.
Há diferentes arranjos no poliamor. Um deles é o trisal, que é o relacionamento romântico entre três pessoas.
Há também a polifidelidade, que é um grupo de pessoas se relacionando exclusivamente entre si, relações mono-poli, onde um dos parceires decide ser monogâmico enquanto a outra pessoa tem mais de um relacionamento, entre outros.
Os acordos poliamoristas podem ter diversas combinações e aquilo que é ou não é considerado permitido irá depender do acordo entre os envolvidos.
- Anarquia relacional:
A proposta da anarquia relacional é que todas regras das relações sejam combinadas entre o casal. É possível ter muitos parceires, ou exclusividade afetiva, ou qualquer outro arranjo, desde que todos saibam e estejam de acordo.
- Agamia:
Rejeita a formação de casais ou de parceires românticos e, consequentemente, de relacionamentos tradicionais. A agamia não rejeita o afeto nem a sexualidade, apenas rejeita a ideia do amor romântico. E da necessidade de que este sentimento seja necessário para que haja intimidade e sentimentos entre as pessoas.
- Sologamia:
Sologamia é quando o seu parceire é… você. Os sologamistas são pessoas que decidiram ter um relacionamento sério consigo mesmas.
- Relacionamento aberto:
É quando os parceires são comprometidos um com o outro, mas são livres para ter relações sexuais com outras pessoas.
Agamia vs modelos gâmicos
Como você provavelmente percebeu na listinha acima, a agamia é diferente dos outros modelos de relacionamento porque é o único dentre eles que não pressupõe a formação de um casal.
A agamia rejeita o modelo de relacionamento em que há um “casal”, onde cada uma das partes têm a responsabilidade de suprir todos os desejos e necessidades afetivas e sexuais da outra pessoa.
A agamia considera que as relações entre as pessoas são dinâmicas e não devem obedecer a um estereótipo de relacionamento, chamado de “romântico” e que precisa atender às expectativas tradicionais.
Os ágamos acreditam que a autonomia e a liberdade são fundamentais para que cada pessoa possa viver seus desejos e sua sexualidade da forma que deseja, sem rótulos ou amarras.
Até porque o par ideal depende muito da situação, não é mesmo?
Muitas vezes a pessoa com quem você se entende perfeitamente bem na cama não é a companhia ideal para viajar, por exemplo.
Ou a pessoa com quem você dividiria o mesmo teto não necessariamente é a mesma que você escolheria para viver a mais louca das paixões. E por aí vai.
Não há motivos para que uma escolha implique, necessariamente, em desistir de outras experiências.
A sexualidade dá lugar ao erotismo
Os ágamos entendem que a sexualidade é um aspecto saudável e natural, capaz de gerar prazer e que deve ser explorada livremente por cada indivíduo, sem tabus e sem culpa.
A substituição da sexualidade pelo erotismo significa que a intimidade, para a agamia, não deve existir exclusivamente dentro dos relacionamentos – sejam eles monogâmicos, poligâmicos ou anarquistas.
Muitas vezes, as pessoas se sentem pressionadas a explicar ou justificar sua sexualidade para atender às expectativas para si mesmas ou para a sociedade.
Isso faz com que, automaticamente, um indivíduo rejeite um determinado gênero.
Por exemplo: um homem que se considera heterossexual automaticamente rejeita qualquer envolvimento com outros homens porque considera que estará abrindo mão de sua sexualidade ao se permitir determinadas experiências.
Por isso, os ágamos preferem o erotismo à sexualidade: o conceito de erotismo favorece o surgimento de novas relações e experiências, que não precisam ter um nome ou um padrão.
Essa postura deixa as pessoas mais confortáveis para se permitir vivenciar diversas situações.
Mais do que um modelo relacional, um estilo de vida
Os ágamos não estabelecem nenhum modelo de relacionamento. Por isso, a agamia, envolve uma transformação da vida privada e da vida social, baseada em afetos, não em compromisso.
Ou seja, a agamia coloca na mesa uma nova proposta para que as pessoas se relacionem entre si, tanto na esfera social quanto na esfera privada
As linhas principais da agamia têm implicações e se estendem por todas as áreas de nossa cultura e sociedade. Saiba quais são:
- Rejeição ao amor romântico;
- Restaurar a razão como autoridade máxima no processo de tomada de decisões;
- Reintegração as relações ao campo da ética;
- Rejeição radical dos gêneros;
- Rejeitar o conceito de “beleza natural” e compreender que a beleza é um padrão construído pela sociedade;
- Substituição da sexualidade pelo erotismo;
- Substituição do sentimento de ciúmes pelo sentimento de indignação;
- Substituição da família pela livre associação entre pessoas.
O amor acabou?
Aquilo que chamamos de “amor” é o amor romântico, que remete ao casamento. Isso faz com que a afetividade fique atrelada a padrões de relacionamento.
Esses padrões são estabelecidos para que as pessoas acreditem e sigam objetivamente as normas da sociedade: casar e ter filhos, por exemplo.
As normas sociais, por sua vez, são utilizadas para controlar e oprimir as pessoas, gerando dependência e subordinação.
Além disso, o conceito de amor romântico acaba limitando as possibilidades que as pessoas têm para experimentar os afetos e a sexualidade.
Por isso, os agamistas preferem a noção de afeto, que não traz consigo as noções tradicionais de exclusividade e os padrões associados ao amor.
Então ser agamista é o único caminho?
Ah, com certeza não!
Como dissemos lá no início, as pessoas são muito diferentes entre si (ainda bem!) e os caminhos que são ideais para um indivíduo não necessariamente irão funcionar para outra pessoa.
Assim como há uma enorme diversidade de gêneros, de identidade sexuais e de sexualidades, existem também vários caminhos para se relacionar com as outras pessoas.
Não existe um modelo de relacionamento “melhor” que os outros. Existem, no máximo, modelos de relacionamento que funcionam (ou que não funcionam) para cada pessoa.
E, vale sempre lembrar: não existe uma receita ou fórmula mágica para a felicidade.
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