Mulheres que mudaram o mundo: bell hooks

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O que não falta são mulheres incríveis, que mudam o mundo com suas ideias e ações, na luta para conquistar uma sociedade melhor e mais justa. 

Acontece que nem sempre essas mulheres que mudaram o mundo têm a devida visibilidade e reconhecimento pelo seu trabalho.

Pensando nisso, estamos lançando uma série aqui no blog, dedicada a essas pessoas fantásticas. Iremos começar com bell hooks, uma das mais importantes intelectuais do século 20. 

Ela proporcionou uma nova visão sobre feminismo, raça, classe e educação, sempre em busca de melhorar as condições em que vivemos.

Conheça mais sobre essa mulher que mudou o mundo. 

Prazer, bell hooks!

Nascida em 1952, Gloria Jean Watkins, ou bell hooks, foi escritora, ativista, feminista, educadora e acadêmica. 

Ela também foi mulher, negra e norte-americana e viveu sua infância no Kentucky, no sul dos Estados Unidos. Durante a década de 1950,o local era conhecido pela política de segregação racial, que colocava as pessoas negras à margem da sociedade. 

Apesar disso, bell hooks, teve uma excelente educação. Estudou na Universidade de Stanford, na Califórnia. Depois, fez mestrado em inglês na Universidade de Wisconsin e doutorado em literatura, na Universidade da Califórnia

De acordo com a própria autora, seu acesso aos estudos aconteceu, em grande parte, graças aos movimentos sociais. 

Esse fato marcaria sua trajetória de forma definitiva e a levaria a se tornar uma ativista para garantir que o máximo número possível de pessoas pudesse ter as mesmas oportunidades. 

Hooks conta essa trajetória no artigo Educação Democrática, que integra o livro Educação contra a barbárie

Por que bell hooks e não Bell Hooks?

Apesar de se chamar Gloria, bell hooks optou por publicar suas obras com um pseudônimo. A escolha homenageia sua avó, chamada Bell Blair Hooks. 

Bell Blair era conhecida, no ambiente familiar, por ser uma mulher forte, que sempre dizia a verdade. Como bell hooks também gostava de se expressar livremente, o pseudônimo era também uma forma de mostrar sua recusa em ser silenciada.

O nome da escritora, entretanto, é inteiramente em letras minúsculas, o que chama a atenção das pessoas. Isso ocorre porque bell hooks quer lembrar ao público que suas ideias e o conteúdo de sua escrita são mais relevantes do que a pessoa que escreve.

O que bell hooks defendia?

Ao longo de seus 69 anos de vida, bell hooks publicou mais de 40 livros, sendo a maior parte deles dedicados a questões relacionadas à raça, feminismo, cultura e educação. 

Ela é considerada uma das mais importantes pensadoras feministas de sua geração. Alguns pontos tem bastante destaque dentro do conjunto de sua obra. 

Um deles é o olhar sobre fatores que perpetuam as desigualdades na sociedade. Para hooks, gênero, classe e raça são três elementos que servem para reforçar a opressão e a dominação. 

Dessa forma, a sociedade apresenta um conflito permanente entre alguns grupos: ricos e pobres; homens e mulheres; brancos e negros. Isso sem esquecer conflitos internos dentro de cada grupo. 

Por exemplo: entre os negros, o machismo continua a ser um sistema em que homens negros oprimem mulheres negras. Dentro de um mesmo grupo, como as mulheres, ainda existem opressões de raça. O mesmo vale para as demais situações. 

Portanto, no pensamento de bell hooks, não há como pensar em apenas uma questão social. Todas elas estão ligadas entre si e se reforçam mutuamente, reforçando a exclusão de determinados grupos.

A importância de bell hooks para o feminismo negro

no primeiro plano da foto há uma mão com punho cerrado e um pulseira de conchinhas. no canto inferior direito há uma mulher negra que aparenta estar em cima de um palco. A mulher do punho cerrado aparenta estar na plateia junto com outras pessoas.

Antes de falarmos sobre o feminismo negro, precisamos ter em mente que o movimento feminista é bem mais antigo do que a maior parte das pessoas pensa. 

Ele surge no final do século 18, com a revolução francesa. Mulheres como Olympe de Gouges, que tem uma impressionante biografia, tiveram um enorme impacto para os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade da época. 

Mais ou menos na mesma época, a inglesa Mary Wollstonecraft, com sua obra Reivindicação dos direitos da mulher, defende o direito das mulheres à liberdade e à educação. 

A primeira onda

Passados mais de cem anos, entre os séculos 19 e 20, o feminismo ganha força com a pressão para que as mulheres tivessem direito ao voto. Este momento histórico ficou conhecido como a primeira onda do feminismo. 

Muitas mulheres negras participaram, ao mesmo tempo, dos movimentos de emancipação feminina e dos movimentos para abolir a escrevidão. 

Algumas dessas mulheres incríveis foram: Sojourner Truth e Harriet Tubman. Infelizmente, entretanto, a luta delas foi relegada a segundo plano tanto por homens negros quanto por mulheres brancas.

A segunda onda

Os debates sobre os direitos das mulheres na sociedade, é claro, se intensificam cada vez mais. Durante a década de 1960, com a revolução sexual, o movimento feminista mais uma vez se intensifica. É aqui que surge a segunda onda do feminismo, que vai até a década de 1980. 

Vale lembrar que esta época é marcada também pelo surgimento do movimento dos direitos civis dos negros. Este movimento reivindicava a igualdade para a população afro-americana, com figuras proeminentes como Martin Luther King Jr.

Aliás, uma curiosidade. Um dos grandes estopins para o movimento dos direitos civis ocorre por causa de uma mulher. 

Em 1955, Rosa Parks, uma mulher negra, se recusou a levantar dos lugares reservados a brancos em um ônibus. 

A trajetória de Rosa até hoje é um exemplo inspirador para pessoas de todas as idades, independente de gênero ou de cor da pele.

O feminismo negro

Com a interseção do feminismo e do movimento negro, aparecem pensadoras que se propõem a pensar as relações entre mulheres e raça. Em poucas palavras, esta é a proposta do feminismo negro. 

Afinal, é inegável que todas as mulheres, como um grupo, sofrem com a opressão em uma sociedade machista. No entanto, é preciso reconhecer que as mulheres brancas contam com mais privilégios do que as mulheres negras. 

Embora muitos livros lançados antes da década de 1980 sejam cruciais para o feminismo, como o Segundo sexo, de Simone de Beauvoir e A mística feminina, havia um problema. 

Eles falavam apenas da mulher branca. As experiências de vida das mulheres negras, que sofriam opressões de gênero mas também de raça, ficavam excluídas da discussão.

E eu não sou uma mulher?

Em 1981, bell hooks lança E eu não sou uma mulher?, livro que aborda questões relacionadas a mulheres negras. 

Essa obra é fundamental para o feminismo negro. A autora começa falando sobre a escravidão e sobre como esta era uma experiência particularmente cruel para as mulheres. 

Na sequência, são colocadas as consequências que um sistema ao mesmo tempo machista e racista tem para as mulheres negras na sociedade contemporânea. 

A frase que dá título ao livro foi pronunciada por Sojourner Truth, ativista negra da primeira onda do feminismo, em um discurso histórico para uma plateia de pessoas brancas.

O título do livro de bell hooks, portanto, reconhece a importância das primeiras ativistas negras, que foram esquecidas pelo movimento negro e pelo feminismo durante quase um século.

A influência de Paulo Freire nas obras de bell hooks 

Foto de Paulo Freire sentado olhando para a câmera com o antebraço apoiado em uma mesa.

Da mesma forma que diversos intelectuais, em especial aqueles que se dedicam à educação, bell hooks foi bastante influenciada pelas ideias de Paulo Freire. 

Quem foi Paulo Freire

O educador brasileiro nasceu em Recife, em 1921 e morreu em 1996. Ele é considerado um dos mais notáveis do mundo. Freire é conhecido por defender a educação libertadora e inclusiva. 

Seu método de ensino é baseado no diálogo, partindo do príncipio que educador e educando constroem o conhecimento juntos. 

Seu método de educação se caracteriza por ser dinâmico e por favorecer a interação entre educadores e educandos. 

Algumas de suas principais obras são:

  • Pedagogia do Oprimido: Freire aborda a importância de conscientizar os educandos para as questões do meio social em que vivem. O autor pensa a educação como um processo político, que é o único caminho para libertar tanto opressores quanto pessoas que sofrem opressões. O livro tem linguagem clara e acessível, e é ideal para qualquer pessoa que deseje começar a ter contato com o pensamento do autor;
  • Educação como prática da esperança:  Este livro é um pouco mais teórico. A proposta aqui é expor o pensamento pedagógico e as linhas gerais de sua visão sobre a prática educacional. Neste volume, Freire também fala sobre sua experiência com a educação de adultos. O educador ensinou um grupo de 300 trabalhadores rurais a ler e escrever em apenas 40 dias;
  • Pedagogia da autonomia: É o último livro de Freire, trata-se de uma obra curta, em linguagem clara e concisa. Ele reflete sobre o que é o ato de ensinar e de aprender, relacionando ambos com a construção do conhecimento por todos os envolvidos no processo. Freire reafirma a importância de humanizar não apenas a educação, mas também todas as pessoas envolvidas com ela.

Freire, bell hooks e a educação

Paulo Freire teve um grande impacto nas obras de bell hooks, em especial naquelas dedicadas à educação.

De acordo com hooks, o pensamento de Freire foi fundamental para que ela pudesse aprender a pensar a realidade social de forma libertadora. 

A autora explica que Paulo Freire lhe deu uma linguagem adequada para falar sobre questões que a inquietam profundamente, como: políticas de dominação, sexismo, racismo e opressão de classe.

Paulo Freire e bell hooks se conheceram pessoalmente na década de 1990 e conversaram sobre educação e feminismo. 

Apesar da admiração, hooks criticou Freire pelo uso da linguagem sexista em algumas obras. Freire escutou atentamente e modificou o modo de escrever em trabalhos posteriores, acolhendo as críticas recebidas.

A autora, por sua vez, deixou claro que a reação de Freire durante o encontro foi profundamente impactante, uma vez que ele admitiu suas próprias limitações e se mostrou disposto a aprender. 

Ela relata, ainda, que uma frase de Paulo Freire despertou sua profunda reflexão. A frase em questão é: “Não podemos entrar na luta como objetos para nos tornarmos sujeitos mais tarde”. 

Para bell hooks, após a reflexão aprofundada sobre essa frase, seu pensamento crítico havia sido profundamente transformado.

Por que bell hooks é uma mulher que mudou o mundo

A influência de bell hooks é fundamental para diversos campos do conhecimento: educação, feminismo, ciências sociais, política, cultura, literatura e artes são apenas algumas delas. 

É graças ao trabalho de hooks que as opressões em diferentes campos, como: gênero, política,raça e classe começaram a ser entendidas de uma nova maneira. Esses elementos podem ser hoje compreendidos como fatores que se relacionam entre si e que se reforçam mutuamente. 

Com isso, é possível compreender melhor como são mantidas as estruturas sociais que privilegiam determinadas pessoas em detrimento de outras. Bell hooks escreveu mais de 50 obras nos mais diversos gêneros: poesia, ensaio, livros infantis, artigos e muitos outros. 

Com isso, ela atinge um público diverso e abrangente, tornando-se uma das intelectuais mais influentes do nosso século. Podemos dizer que bell hooks mudou o mundo para todos os indivíduos. 

Sua obra toca questões profundamente humanas e importantes para compreender a sociedade. Além disso, hooks fornece ao público ferramentas fundamentais para reconhecer o valor de grupos e de indivíduos historicamente marginalizados e silenciados.

Principais livros de bell hooks na Amazon 

Você quer conhecer a obra de bell hooks mais de perto? Descubra os principais livros dessa mulher que mudou o mundo.

Tudo sobre o amor: novas perspectivas

Sem dúvida, tentar explicar o que é o amor não é uma tarefa simples ou fácil. Mas bell hooks se propõe a investigar o assunto em diferentes aspectos. 

Para hooks, a sociedade patriarcal ensina ideias falsas sobre o amor, desconsiderando a necessidade de que todos os seres humanos aprendam a amar. 

A autora propõe a construção de uma ética amorosa, que deve permear todas as relações: familiares, de amizade e românticas. 

Com isso, torna-se importante perceber que o amor é mais que um sentimento. Ele é uma construção, que só tem sentido com a ação. O amor deve ser visto como um ato revolucionário, capaz de construir uma sociedade mais justa e menos excludente, pensando no bem-estar da coletividade. 

Este volume é o primeiro da chamada Trilogia do Amor, mas a Editora Elefante promete lançar os próximos em breve.

O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras

Engana-se quem pensa que o feminismo deve ser voltado apenas para um grupo, como as mulheres, por exemplo. 

Neste livro, bell hooks mostra como o feminismo pode mudar para melhor a vida de todas as pessoas, de qualquer gênero, idade, raça ou classe social. 

Para construir uma sociedade menos opressora e mais igualitária, todos devem ser educados pelo feminismo. 

A autora também fala sobre as relações entre feminismo e pensamento crítico, como ocorre a luta de classes dentro do feminismo, amor feminista, orientações sexuais dentro do feminismo e muito mais.

livro

A vontade de mudar

Esse livro também coloca o amor como um aspecto central para a construção de uma sociedade melhor. 

Aqui, a discussão é voltada para os homens, que frequentemente se sentem compelidos a reprimir seus sentimentos e emoções devido ao patriarcado e aos papéis tradicionais de gênero

Para hooks, essa repressão tem como consequência a infelicidade, a dor e a ausência de satisfação na vida de pessoas que se identificam com o gênero masculino. 

Isso tudo termina em pessoas com atitudes extremamente negativas. Por este motivo, há tantos homens violentos, tóxicos e sem inteligência emocional na sociedade. 

Hooks mostra que os homens possuem, sim, a vontade e a capacidade de mudar. Essa transformação deve vir através do amor.

Trilogia do ensino

Esses três livros são, como o nome indica, dedicados para a educação e para o pensamento crítico. 

A autora compreende esses dois elementos como instrumentos fundamentais para modificar a sociedade. 

Saiba o tema de cada volume.

Ensinando a transgredir: educação como prática da liberdade

Aqui, hooks propõe uma nova forma de educar, que leve as pessoas a transgredir fronteiras como: gênero, raça, classe ou sexualidade. 

Para hooks, o objetivo mais importante de qualquer processo educacional deve ser a liberdade.  Portanto, “a educação como prática da liberdade é um jeito de ensinar que qualquer um pode aprender”. 

Essas e muitas outras frases repletas de afeto, política e desejo de mudar a sociedade estão neste livro inspirador. 

Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática

Este livro é a continuação de Ensinando a transgredir. De acordo com a autora, a obra tem como ponto de partida sua vivência como estudante, no Kentucky da década de 1950. 

Ela fala da importância de professores comprometidos em incentivar a luta por justiça social. Aqui, portanto, hooks questiona a educação do sistema capitalista. 

Esse modelo educacional costuma se preocupar prioritariamente com a formação para o mercado de trabalho em detrimento da formação humana do aluno. 

Para hooks, é essencial combater esse tipo de ensino e despertar nos estudantes a capacidade de pensar de forma crítica.

Ensinando comunidade: uma pedagogia da esperança

Desde o título, bell hooks abre diálogo com Paulo Freire. Vale lembrar que o autor brasileiro tem um livro com o título Pedagogia da Esperança

Hooks fala sobre sua experiência prática como professora por mais de três décadas. O livro é composto por 16 ensinamentos, cada um deles abordando os desafios a serem enfrentados por educadores comprometidos com a luta contra a dominação. 

Alguns temas abordados no livro são: sexualidade, autoestima, medo, racismo e espiritualidade. Hooks propõe também a valorização da diversidade como forma de construir conexões, e não barreiras, entre as pessoas.

Teoria feminista: da margem ao centro

Este livro é fundamental para quem tem interesse em se aprofundar no feminismo negro. Aqui, hooks esclarece que defender o feminismo deve começar por não admitir nenhum tipo de opressão entre mulheres.

E isso inclui, entre outros elementos, os conflitos de raça e de classe social dentro do feminismo. Ela denuncia o movimento feminista tradicional como: a heteronormatividade, o racismo e o academicismo. 

Sua proposta é ressignificar as relações, valorizando todas as mulheres. A autora ressalta também a importância de ver os homens como parceiros na luta pela igualdade e não como opressores em potencial.

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