O que é heteronormatividade e suas consequências

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Você se lembra de uma frase que diz “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”? Isso resume bem o que é a heteronormatividade. 

Acreditar que o mundo se divide apenas em homens e mulheres, assim como acreditar que existem comportamentos masculinos e comportamentos femininos vai muito além das cores. 

É algo que está enraizado na sociedade e que faz parte da forma de pensar da maior parte das pessoas. E acredite: isso causa problemas muito maiores do que a cor da roupa. 

Se você quer saber, exatamente, o que é a heteronormatividade e como ela afeta a sua vida, é só continuar a leitura.

O que é essa tal de heteronormatividade

Uma boa forma de compreender o significado de heteronormatividade é examinar de perto a palavra. 

“Hetero” vem do idioma grego e significa “diferente”. “Normatividade”, por sua vez, diz respeito a um conjunto de normas ou de regras. Portanto, “heteronormatividade” quer dizer um conjunto de regras em relação às diferenças.  

Mas… que diferenças são essas? 

Heteronormatividade e gênero biológico

A heteronormatividade parte do princípio de que existem apenas dois gêneros possíveis para os seres humanos: masculino ou feminino. 

Em uma cultura heteronormativa, os gêneros são definidos biologicamente. A única opção possível para uma pessoa seria, sob essa ótica, se adequar ao gênero designado no momento do nascimento. 

 A heteronormatividade, portanto, descarta qualquer identidade de gênero que seja diferente das categorias “masculino” ou “feminino”. Isso não costuma ser um problema para as pessoas cisgênero, que são aquelas que se identificam com o gênero que foi designado no nascimento. 

Mas é importante ter em mente que os gêneros heteronormativos são, antes de tudo, padrões de comportamento. Não por acaso, a ideia daquilo que é considerado “masculino” ou feminino” pode mudar bastante de acordo com a época, o lugar ou o grupo social em que cada pessoa vive.  

Por isso mesmo, muitas pessoas não se identificam com os padrões de comportamento que se espera do gênero masculino ou feminismo. É perfeitamente possível não se identificar com nenhum dos dois gêneros. 

Por isso mesmo, há identidades de gênero que vão além de masculino e feminino. A Comissão de Direitos Humanos de Nova York, atualmente, identifica mais de 30 gêneros diferentes.

Além disso, há pessoas que nascem com útero e ovários, mas se identificam com o gênero masculino. Da mesma forma, nada impede que quem nasce com pênis se identifique com o gênero feminino. 

Logo, a heteronormatividade causa inúmeros problemas para pessoas que não se identificam como cisgênero.  

Heteronormatividade e sexualidade

Nós sabemos que a identidade de gênero e a sexualidade não possuem nenhuma relação entre si. Afinal, a identidade de gênero é como uma pessoa se sente em relação a si própria. 

A sexualidade, por sua vez, tem a ver com os relacionamentos e sentimentos em relação às outras pessoas. O problema é que a heteronormatividade vê o sexo biológico, identidade de gênero e a sexualidade como uma coisa só. 

Isso significa que uma sociedade heteronormativa espera também que todas as pessoas sejam heterossexuais. Para a heteronormatividade, só é considerada “normal” uma pessoa que é, ao mesmo tempo, cisgênero e heterossexual. 

Além de gerar uma série de preconceitos para todos que não se encaixam nesses padrões, há outro problema. A heteronormatividade leva as pessoas a acreditar que todos são heterossexuais e que essa é a regra. 

Com isso, todas as outras orientações, como a bissexualidade, a homossexualidade, a pansexualidade, a assexualidade, entre outras, são vistas como algo que só acontece com um pequeno número de pessoas. 

Isso faz com que as pessoas que não são heterossexuais se sintam diferentes, confusas ou excluídas durante uma parte da vida. 

Papéis de gênero e heteronormatividade

Como a heterossexualidade e a identidade cisgênero são a norma, pode acontecer de uma pessoa levar algum tempo para perceber ou para assumir a sua identidade de gênero. 

Por isso, o debate e a informação sobre gênero e sexualidade são fundamentais para compreender melhor o que é a identidade de gênero e a sexualidade. 

Essas informações são importantes para todos, independente do gênero. Apenas dessa forma é possível parar de reproduzir padrões heteronormativos. Afinal, eles reforçam preconceitos e opressões sobre indivíduos fora desse padrão. 

Judith Butler, filósofa e professora nascida nos Estados Unidos, tem um trabalho importantíssimo para quem busca compreender mais sobre a heteronormatividade. 

Para Butler, as pessoas estão em constante processo de construção e de desconstrução. Em outras palavras, ninguém tem uma identidade fixa durante todo o tempo, nós mudamos de acordo com as diversas situações, acontecimentos e outros fatores. 

Para Butler, a identidade de gênero não deve ser algo imutável e permanente. Isso porque o gênero não é algo natural. Apenas é um papel que, devido à heteronormatividade imposta, se torna naturalizado para  a maior parte das pessoas. 

Ninguém nasce com um gênero “natural” ou “biológico”, ou seja, não é a natureza, o destino ou qualquer outro fator que  determina se uma pessoa terá o gênero masculino ou feminino.

Quem produz essas duas categorias é a heteronormatividade, designando um conjunto de comportamentos que serão considerados mais ou menos adequados de acordo com o corpo de cada pessoa.

Butler também aponta que, devido à heteronormatividade, a maior parte das pessoas acaba se vendo forçada a ter um comportamento heterossexual. Há pouco espaço para questionar a orientação sexual em uma sociedade onde a maioria esmagadora dos relacionamentos aceitos são heterossexuais. 

A filósofa explica que é impossível viver totalmente fora dos padrões heteronormativos, já que eles permeiam toda a sociedade. No entanto, é possível criar formas de enfrentar a heteronormatividade, subvertendo e burlando as expectativas sociais dos papéis de gênero. 

Se você quiser saber ainda mais sobre esse assunto, uma boa indicação é o livro Problemas de Gênero, onde Judith Butler expõe seus pensamentos sobre a heteronormatividade.

Quando e como a heteronormatividade foi criada

foto de uma drag queen que está encostada em uma parede. A foto foi tirada de cima para baixo e a drag está de olhos fechados

Vamos começar com uma pequena curiosidade: o termo heteronormatividade apareceu pela primeira vez há cerca de 30 anos. 

Ele foi criado pelo professor e crítico literário Michael Warner para se referir ao sistema social que exige das pessoas um comportamento cisgênero e heterossexual. 

No entanto, é claro, a sociedade heteronormativa existe há muito mais tempo. Vamos descobrir um pouco mais sobre a história da heteronormatividade.

Papéis de gênero: heteronormatividade e história

De certa forma, a sociedade sempre esperou que homens e mulheres tivessem determinados comportamentos de acordo com o gênero designado durante o nascimento. 

Em seu livro mais importante, O Segundo Sexo, a filósofa francesa Simone de Beauvoir explica como diferentes sociedades, ao longo da história, percebiam e tratavam homens e mulheres.  

Conforme dissemos antes, a ideia daquilo que é considerado masculino ou feminino pode mudar muito de acordo com cada época e lugar. 

Durante o século 17, por exemplo, era comum que os homens franceses utilizassem salto alto, calçado que hoje é visto como símbolo de feminilidade. Os nobres da França também utilizavam perucas, maquiagem e tecidos com bordados elaborados. Todos esses itens, hoje, são vistos como “coisas de mulher”. 

O mesmo acontece com as cores rosa e azul. Atualmente, as pessoas associam o uso do azul para crianças com sexo biológico masculino e rosa para crianças com sexo biológico feminino. 

No entanto, até a década de 1940, era exatamente o oposto. As roupas feitas para meninos tinham a cor rosa, enquanto as vestimentas de meninas eram tradicionalmente na cor azul. 

Algo semelhante ocorre com a divisão de tarefas. Em boa parte da sociedade ocidental, o gênero feminino fica tradicionalmente encarregado das tarefas domésticas. 

Mas há grupos humanos como os Mosuo, tribo que vive no oriente. Lá, as mulheres são encarregadas do trabalho, inclusive aqueles que exigem força física. Elas também tomam todas as decisões importantes, de natureza individual ou coletiva. Os homens, por sua vez, são responsáveis pelas tarefas domésticas. 

Estes são alguns exemplos que demonstram o quanto os papéis de gênero não são determinados pela natureza. Eles são definidos por cada grupo de acordo com os interesses políticos, econômicos e sociais. 

Não é de hoje que as normas de comportamento para cada gênero foram questionadas. Descubra três escritores que, em diferentes momentos da história, questionam os papéis de gênero:

  • Virginia Woolf: Ainda na década de 1920, a escritora narra a história de Orlando, um homem nobre inglês que inesperadamente acorda no corpo de uma mulher. A vida de Orlando atravessa cerca de três séculos, ao longo dos quais o personagem sente na pele a diferença de tratamento destinada a cada um dos gêneros na sociedade;
  • Gilberto Freyre: Um dos mais renomados antropólogos brasileiros, o autor dedicou um estudo destinado a compreender as relações entre vestuário e comportamento no Brasil. Modos de Homem & Modas de Mulher mostra como os padrões da moda estão relacionados às expectativas sociais para homens e mulheres;
  • Domingos Olímpio: O escritor publicou Luzia-Homem em 1903. A protagonista tem o gênero biológico feminino e se comporta de acordo com aquilo que se esperava das mulheres. No entanto, por ter características físicas associadas ao gênero masculino, como o fato de ser forte e alta, Luzia é tratada de uma forma diferente daquela destinada às outras mulheres, sofrendo diversas discriminações.

Heteronormatividade e gêneros não-binários

Uma das características da heteronormatividade são os gêneros binários, aqueles conhecidos como masculino ou feminino. Como sabemos, a sociedade heternormativa costuma reconhecer apenas duas possibilidades de gênero. 

Mas será que é assim em todas as sociedades? A resposta é não. Ao longo da história, muitas sociedades reconheceram outros gêneros além do masculino e do feminino. 

A tribo Mahu, da Polinésia, assim como os Incas e os indígenas norte-americanos, reconheciam a existência de três gêneros diferentes. Cada um deles tinha o seu papel e era respeitado dentro do grupo ao qual pertenciam. 

Já os Bissu, da Indonésia, reconheciam a existência de até cinco gêneros diferentes. A existência de mais de dois gêneros em diferentes sociedades demonstra que os comportamentos associados a cada um deles são uma construção social

Não há um comportamento pré-determinado pela natureza ou por qualquer força externa aos seres humanos. 

Portanto, identidades de gênero masculina ou feminina não são mais naturais nem mais válidas que as demais identidades. A única diferença é que elas costumam ser mais aceitas pela sociedade heteronormativa. 

Apesar de vivermos em uma sociedade heteronormativa, personagens com gêneros que não são binários aparecem em diversos livros, levando as pessoas a questionar cada vez mais os padrões estabelecidos. Veja três autores que abordaram este assunto:

  • Guimarães Rosa: Em Grande Sertão: Veredas, um dos mais importantes livros brasileiros, o escritor explora os padrões de comportamento de gênero através de uma história de amor que se passa no interior do país. Diadorim, uma das personagens principais, tem a descrição feita em linguagem de gênero neutro durante boa parte do tempo e seu gênero é um enigma dentro da história;
  • João Francisco dos Santos: Também conhecido como Madame Satã, esta é uma das mais interessantes pessoas em toda a história do Rio de Janeiro. João/Madame se autodefine como travesti e homossexual. Madame foi uma das primeiras artistas deste gênero no Brasil e trabalhou entre as décadas de 1920 a 1950. Em sua autobiografia, a história de vida permeada de preconceitos, injustiça e crimes é contada em suas próprias palavras;
  • Paul B. Preciado: Preciado é um dos mais destacados filósofos da atualidade. Muitos de seus trabalhos dizem respeito à heteronormatividade. Em Manifesto Contrassexual o autor espanhol propõe um questionamento divertido e mordaz sobre sexo, desejo e gênero. A proposta, no manifesto, é entender a sexualidade como algo que não depende de masculino/feminino ou de uma sexualidade específica.

Orientação sexual e heteronormatividade 

O mesmo ocorre com a sexualidade. Sempre houve diferentes orientações sexuais, até porque dificilmente seria possível estabelecer o mesmo padrão de desejo para todas as pessoas. 

No entanto, a sociedade heteronormativa leva a acreditar que os relacionamentos heterossexuais são mais válidos que todos os outros. Mas basta olhar para outras sociedades e veremos que isso não passa de um mito.

Um dos casos mais conhecidos e registrados, historicamente é aquele da Grécia Antiga.  As relações entre pessoas com o mesmo gênero eram socialmente aceitas por todos. 

Não por acaso, ainda hoje podemos ler trechos da obra de Safo, poetisa que abertamente demonstrava atração por outras mulheres. Fedro, escrito por Platão, é dedicado ao amor entre homens na sociedade grega. 

Mesmo ao longo da história ocidental, com uma história de opressão e de violência com pessoas que não seguissem a heterossexualidade, é possível encontrar o registro e a expressão de outras sexualidades. 

Descubra alguns exemplos da história da literatura em que a heterossexualidade é questionada:

  • Oscar Wilde: o escritor inglês, em uma época em que a homossexualidade era considerada ilegal, tem duas obras com essa temática. O retrato de Dorian Gray, romance sobre a beleza de um jovem que seduz todos (homens e mulheres) e De Profundis, onde o relacionamento com outro homem é narrado em detalhes;
  • Arthur Rimbaud: um dos mais importantes poetas de todos os tempos, Rimbaud fez diversos registros sobre seu relacionamento com Paul Verlaine, também poeta. Muitas dessas obras demoraram a vir a público, a pedido dos familiares de Rimbaud. Tudo está relatado na biografia do poeta;
  • Mário de Andrade: famoso escritor brasileiro, Mário de Andrade chegou a falar abertamente sobre sua orientação sexual em uma carta ao amigo Manuel Bandeira. As diferentes faces do erotismo, homossexual ou não, foram exploradas e podem ser notadas em diversas obras do escritor.

Mas por que a heteronormatividade é ruim?

uma pessoa de cabelo curto olhando para a câmera. Essa pessoa está tirando a maquiagem do rosto com um lenço.

Mas será que a heteronormatividade pode ser considerada algo nocivo? A resposta é sim, por uma série de motivos. 

Em primeiro lugar, a heteronormatividade estabelece um padrão como o único que é válido. A consequência é que as pessoas fora deste padrão, seja pela identidade de gênero, pela orientação sexual ou por qualquer outro motivo, sofrem com o preconceito, com a opressão e com a exclusão. 

Não por acaso, há uma grande quantidade de violência com motivações homofóbicas e/ou bifóbicas. Estamos falando de agressões cometidas especificamente contra pessoas que não seguem os padrões de comportamento heterossexual. 

Outro ponto importante é a transfobia, que ocorre quando uma pessoa é agredida devido à sua identidade de gênero. Para dar uma ideia do quanto esse assunto é sério, nosso país é aquele que mais mata pessoas trans em todo o mundo.

Outro efeito nocivo da heteronormatividade é a invisibilização de pessoas que não se adequam a estes padrões. Basta olhar para o cinema ou para as séries de streaming para compreender como isso funciona. A maior parte dos casais representados são heterossexuais. 

Da mesma forma, a maioria dos personagens são homens ou mulheres cisgênero. A ausência de representatividade faz com que pessoas não cis e pessoas não hetero se sintam ainda mais diferentes e excluídas da sociedade. 

Isso aumenta também a falta de aceitação dessas pessoas em diferentes grupos, como: família, trabalho, amigos, entre outros. 

Heteronormatividade compulsória: você desempenhando um papel

Como apontou a filósofa Judith Butler, a heteronormatividade afeta a vida de todas as pessoas. Um dos efeitos mais negativos está no fato de que os papéis de gênero sufocam as subjetividades de cada indivíduo. 

Estamos falando da heteronormatividade compulsória, ou seja, o fato de que o padrão heteronormativo faz com que as pessoas se questionem pouco sobre a própria identidade de gênero ou sobre a própria sexualidade. 

A maior parte das pessoas tenta viver de acordo com os padrões heteronormativos e busca se adequar aos papéis de gênero tradicionais sem se perguntar qual é a melhor forma de explorar seus desejos, sem nenhum tipo de repressão. 

Os papéis de gênero tradicionais são aqueles conjuntos de padrões de comportamento que a família, amigos, colegas de trabalho, conhecidos ou mesmo completos estranhos esperam que uma pessoa tenha apenas devido ao seu gênero. 

Alguns exemplos dos papéis de gênero que fazem parte do cotidiano de muitas pessoas é esperar que homens não demonstrem sentimentos ou crer que mulheres devem ser responsáveis por cuidar da casa e da família. 

Acontece que os comportamentos de gênero são compreendidos como parte da identidade de cada pessoa. Logo, muitas pessoas acreditam que contrariar os papéis de gênero significa abrir mão de uma parte importante de suas identidades.  

Entenda as consequências da heteronormatividade na sociedade 

Mas quais são as consequências da heteronormatividade para a sociedade? O melhor caminho para compreender isso é entender mais sobre os impactos que os papéis de gênero possuem na vida das pessoas.

Os papéis tradicionais de gênero estão na raiz de diversos tipos de violência, incluindo mortes. Você duvida?  Rita von Hunty, que entre muitas outras coisas é drag queen e intelectual, lembra que o Brasil é um dos países com maior índice de feminicídio no mundo. 

Assassinatos de mulheres causados por motivos triviais como: ciúmes, recusar a fazer sexo ou por não aceitar a separação são incrivelmente comuns. Recentemente, um homem justificou o assassinato da companheira simplesmente porque ela teria rido dele

A desigualdade em relação à divisão de trabalho também é alarmante. Ainda de acordo com von Hunty, as mulheres costumam dedicar, em média,o dobro de tempo às tarefas domésticas em relação aos homens. Isso ocorre mesmo quando ambos trabalham fora de casa. 

Consequências da heteronormatividade no mercado de trabalho

Como o cuidado com os filhos é considerado, em uma sociedade heteronormativa, responsabilidade do gênero feminino, não causa espanto que as mulheres desistam ou façam uma pausa não desejada na carreira depois do nascimento dos filhos. 

Ocorre que o período da licença-maternidade é bem curto, são apenas 120 dias remunerados. É importante ter em mente que são pouquíssimas as empresas que contam com espaços pensados para as necessidades familiares dos trabalhadores, como creches. 

Logo, na maior parte das vezes, são as mulheres que precisam decidir onde, como e com quem o bebê irá ficar durante a jornada de trabalho. 

Como se isso não bastasse, ainda hoje muitas pessoas (inclusive empresários) acreditam que mulheres devem ganhar um salário menor  devido a fatores como a licença-maternidade.

Por outro lado, mulheres que optam por não ter filhos frequentemente enfrentam críticas e julgamentos. Isso ocorre porque a sociedade heteronormativa estabelece que ser mãe é parte importante da identidade de gênero feminina. 

Masculinidade tóxica e heteronormatividade

Para aqueles que se identificam como homens, por outro lado, a heteronormatividade também tem péssimas consequências. Uma das mais comuns é a masculinidade tóxica, que afeta negativamente a saúde física e mental de pessoas que se identificam com o gênero masculino, em especial os homens cisgênero. 

Com isso, uma série de vivências e de experiências podem ser perdidas de forma irremediável. É isso que chamamos de heteronormatividade compulsória. A obrigação que as pessoas de um determinado gênero sentem em agir de acordo com a expectativa social, independente do desejo individual de cada um. 

Um bom exemplo disso pode ser visto em relação ao comportamento dos homens. Devido ao fato de que cuidar da própria saúde não é parte importante da identidade de gênero masculina, estima-se que homens vivam, em média, sete anos a menos que as mulheres. 

Heteronormatividade, relacionamentos e violência

As questões não param por aí. Infelizmente, muitas pessoas dentro da sociedade heternormativa se tornam violentas quando percebem que os papéis de gênero tradicionais estão sendo questionados. 

Não por acaso, pessoas que não se adequam a papéis de gênero heteronormativos, como transexuais e travestis, sofrem tantas agressões e violências que sua expectativa de vida é estimada em apenas 35 anos. 

Como se isso não bastasse, a heteronormatividade também determina como serão todos os relacionamentos que teremos com outras pessoas. 

Como os papéis tradicionais de gênero estão relacionados à heterossexualidade compulsória, muitas pessoas não entendem e nem aceitam relacionamentos afetivos fora do padrão tradicional, monogâmico e onde cada pessoa age de acordo com o papel de gênero heteronormativo.

É possível fazer a desconstrução da heteronormatividade?

fotos de duas pessoas olhando para a câmera. As duas pessoas estão vestidas de uma forma diferente do que a heteronormatividade espera.

Mas se a heteronormatividade é tão nociva, o que cada um de nós pode fazer a respeito? Antes de tudo, é preciso compreender que a heteronormatividade está profundamente enraizada na sociedade e na forma de pensar da maior parte das pessoas. 

A escritora francesa Monique Wittig demonstra como o pensamento heteronormativo está profundamente enraizado na forma de pensar de todas as pessoas. Alguns de seus artigos sobre o assunto foram publicados recentemente aqui no Brasil.

Por isso mesmo, não é simples nem fácil desconstruir esses padrões. O primeiro passo é reconhecermos a existência da heteronormatividade. É preciso ter consciência de que ela afeta os nossos pensamentos e sentimentos em relação a nós mesmos e às outras pessoas. 

Como lembra Rita von Hunty, desde a infância nós somos criados para ser heteronormativos. No entanto, ainda bem, já existe bastante espaço para que a heteronormatividade seja questionada e para que os papéis de gênero tradicionais sejam desafiados por novos comportamentos. 

É preciso ter em mente, também, que aquilo a ser feito varia muito de acordo com cada pessoa, com suas possibilidades e com suas condições de vida. Aquilo que para um indivíduo é absolutamente normal pode ser considerado revolucionário para outra pessoa e vice-versa. 

Tão importante quanto desconstruir a heteronormatividade é ter empatia com as outras pessoas e tentar compreender os motivos que as levam a agir de uma determinada forma. 

Perguntas frequentes sobre heteronormatividade

Você tem alguma dúvida sobre a heteronormatividade? Veja as respostas para algumas das perguntas mais frequentes sobre o assunto.

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