Você já parou para se perguntar o que é e como surgiu o padrão de beleza? Aliás, por que algumas pessoas são consideradas mais bonitas do que outras? Será que sempre foi assim?
Hoje iremos falar sobre o padrão de beleza e sobre como ele pode impactar a vida das pessoas. Continue lendo para saber mais.
Afinal, o que é padrão de beleza?
As regras para que uma pessoa seja ou não considerada bonita por um determinado grupo mudam bastante de acordo com o contexto social e cultural.
Cada comunidade tem os seus próprios critérios sobre aquilo que deve ou não ser considerado como belo. Portanto, o padrão de beleza não é algo natural, inato ou universal.
O padrão de beleza é, antes de tudo, uma construção social. Trata-se de um conjunto de normas que indicam o aspecto visual para que determinados corpos sejam considerados belos. Aqueles que se encaixam na maior parte das normas são percebidos como mais bonitos que os demais.
Quando surgiu o padrão de beleza
Não se sabe ao certo como ou quando as sociedades começaram a criar seus próprios padrões de beleza. O estudo das obras de arte pode dar alguns indícios sobre os padrões de beleza em algumas comunidades. Afinal, a representação de seres humanos está presente em diversas sociedades, ao longo de toda a história da arte.
Uma das obras mais antigas de que temos notícias é a Vênus de Willendorf, uma estatueta de pedra com formas femininas. Estima-se que ela tenha sido criada há cerca de 30 mil anos atrás. Os pesquisadores ainda não chegaram a uma conclusão sobre qual seria a função desse artefato. Tampouco é possível dizer se havia a intenção de representar um padrão de beleza nessa estatueta.
De acordo com o historiador da arte E.H. Gombrich, diversas civilizações da antiguidade, como o Egito e a Mesopotâmia, tinham suas próprias convenções para representar seres humanos.
Cabe destacar que as imagens de pessoas criadas por essas sociedades não eram naturalistas. Por esse motivo, é possível que essas obras não indiquem um padrão de beleza a ser seguido na vida real.
Para o filósofo Umberto Eco, a Grécia foi a primeira sociedade ocidental a representar padrões de beleza na arte. A beleza física era associada a características importantes, como a justiça, a harmonia e o caráter.
Um corpo e um rosto belos eram considerados o reflexo de uma alma bela, motivo pelo qual a beleza era extremamente valorizada na sociedade grega. Ainda de acordo com Eco, a padronização da beleza grega ocorreu por volta do século IV a.C .
Neste período, Atenas se firma como um potência econômica, militar e cultural. Essa hegemonia faz com que a maior parte das pessoas compartilhe noções semelhantes em relação àquilo que pode ser considerado bonito.
Aqui é importante ter em mente que, para os gregos, a função principal da arte era imitar a realidade. Por isso, no mesmo período em que Atenas se torna um importante centro cultural, as artes plásticas apresentam um grande progresso técnico. A arte grega se torna muito próxima do naturalismo e do realismo.
A escultura, principalmente, deveria representar a beleza do corpo. Umberto Eco ressalta que as esculturas gregas deveriam mostrar a fusão entre a beleza das formas humanas e a bondade da alma. De acordo com Eco, as obras de Praxíteles são a expressão máxima do ideal grego de beleza.
Posteriormente, filósofos como Sócrates e Platão irão refinar o conceito de beleza e seus ideais. Eco explica que a partir da obra Platão surgem duas concepções diferentes de beleza. O primeiro está no belo como resultado de proporção, de harmonia e de equilíbrio.
O outro é a beleza como esplendor, que encanta as demais pessoas. Eco explica que essas duas concepções irão influenciar todos os ideais de beleza da sociedade ocidental ao longo da história.
Por que existe padrão de beleza?
A pesquisadora Rosita Esteves destaca uma importante função do padrão de beleza em uma sociedade: influenciar o comportamento das pessoas. Afinal, para atingir a beleza considerada ideal, é necessário que uma pessoa cultive determinados hábitos.
Imagine, por exemplo, uma sociedade em que corpos com músculos bem definidos sejam considerados bonitos. Muitas pessoas irão praticar exercícios físicos que desenvolvam a musculatura, com o principal objetivo de se encaixar no padrão de beleza.
Sendo assim, o padrão de beleza é construído a partir de determinadas características e comportamentos desejáveis para uma determinada sociedade. Ou seja: quando uma pessoa se encaixa no padrão de beleza, isso indica que ela possui atributos socialmente valorizados.
De forma que, quanto mais uma pessoa corresponde ao padrão de beleza, mais ela demonstra possuir atributos socialmente valorizados.
O padrão de beleza dominante sempre foi o mesmo?
O padrão de beleza é uma construção social. Ele reflete determinados atributos e características valorizados por um determinado grupo. Portanto, o padrão de beleza muda de acordo com a época, a cultura e o tipo de sociedade.
Quando pensamos sobre os padrões estéticos de uma sociedade capitalista, devemos ter em mente que a beleza ideal tem íntima relação com a classe social.
O historiador Arnold Hauser explica que, nas sociedades ocidentais, o poder de definir o que é beleza fica concentrado nas mãos de um pequeno grupo de indivíduos.
Cabe a essa elite propagar seus próprios ideais através das produções culturais de suas respectivas sociedades. Um dos aspectos através dos quais as classes econômicas se distinguem entre si, na maior parte das sociedades capitalistas, está na aparência e na apresentação pessoal.
Em sua tese de sociologia, a pesquisadora Leah Kazee esclarece que, no ocidente, o padrão de beleza deve refletir os privilégios socioeconômicos das elites. Dessa forma, o padrão de beleza dominante é criado para incluir apenas um pequeno grupo de pessoas, excluindo aqueles que estão nas camadas mais populares da sociedade.
Como consequência, o padrão de beleza pode mudar ao longo dos tempos. Porém, o objetivo principal permanece: distinguir as pessoas com base na aparência, que por sua vez, é um reflexo da classe social.
De acordo com Kazee, o padrão de beleza é um dos modos de propagar a desigualdade e de reforçar os privilégios de determinados grupos sociais.
Como o padrão de beleza mudou ao longo dos séculos
Já sabemos que o conceito de beleza mudou bastante durante os diversos períodos da história. Saiba quais eram os padrões estéticos em algumas épocas.
Padrão de beleza na antiguidade
Os estudos históricos e arqueológicos permitem que tenhamos algumas noções sobre aquilo que poderia ser considerado como belo na antiguidade. Vamos saber mais sobre esse período.
Padrão de beleza no Egito antigo
Sabe-se muito pouco sobre os padrões de beleza no Egito. A egiptóloga Joyce Tyldesley destaca que não há como saber quais eram os padrões de beleza da época. Tampouco é possível afirmar qual era, exatamente, a importância da beleza nesta sociedade.
A observação dos artefatos e obras de arte remanescentes indica que o uso de pintura nos olhos era bastante valorizado. O mesmo vale para pinturas corporais, que tinham função decorativa. Além disso, jóias, ouro e pedras preciosas eram bastante utilizados para adornar o corpo e o rosto.
Padrão de beleza na Grécia antiga
De acordo com a mitologia grega, Zeus teria uma medida apropriada, equilibrada e justa para cada ser vivo.
A beleza física deveria refletir esses atributos, ou seja: a proporção e a harmonia eram essenciais para o padrão de beleza grego. Isso valia tanto para homens quanto para mulheres. Umberto Eco ressalta que Apolo e as musas eram as divindades que promoviam esses ideais estéticos.
Outro padrão de beleza valorizado pelos gregos era associado à subjetividade e às paixões. Este tipo de beleza pertence ao domínio de Dionísio, divindade do teatro, das festas, do vinho e da alegria.
A beleza dionisíaca era o oposto do equilíbrio e da harmonia. Ela expressava a subjetividade, a sensibilidade e as ideias abstratas. De acordo com Umberto Eco, este tipo de beleza valorizava o mistério, a desordem e a perturbação.
Desta maneira, a beleza dionisíaca é aquela que não pode ser explicada de forma racional. Ela envolve a alma das pessoas, indo além do mundo visível.
Padrão de beleza na Idade Média
A pele pálida era bastante valorizada, uma vez que apenas as camadas populares precisavam se expor ao sol para trabalhar.
Nas mulheres, a testa larga era um atributo estético muito desejado. Por isso, elas raspavam as sobrancelhas e escondiam os cabelos ao máximo. Além disso, a principal função da mulher era a procriação. Por este motivo, o ideal era que os corpos femininos deveriam ter a barriga proeminente. Isso indicava a fertilidade.
Para os homens, o ideal era ter um corpo esguio, com braços fortes e pernas longas. Isso indicava a capacidade para o combate físico e para as guerras, o que era um importante atributo de virilidade.
Padrão de beleza renascentista
Para os renascentistas, a beleza ideal era aquela capaz de replicar a perfeição da natureza. Havia regras rígidas para que um rosto fosse considerado belo. As áreas da testa, olhos, nariz, boca e queixo deveriam ser simétricos e ter o mesmo comprimento. Por esse motivo, era comum que as pessoas utilizassem artifícios cosméticos para atingir esse equilíbrio.
Para as mulheres, o modelo de beleza era a imagem da Vênus, retratada em diversas obras de arte do período. Cabelos compridos, ondulados e claros eram vistos de forma bastante favorável. O corpo feminino ideal deveria ser curvilíneo, com formas generosas.
Durante o humanismo, o corpo masculino é celebrado como o ideal, que refletia a perfeição de Deus. Nesse sentido, os nus masculinos expressavam força, poder, beleza, harmonia e proporção.
Padrão de beleza no iluminismo
Um traço marcante do iluminismo é a valorização do conhecimento e da razão. As primeiras enciclopédias foram feitas nesse período, com o objetivo de reunir um amplo leque de informações importantes. Outra produção frequente na época eram os manuais, tratados e cartilhas sobre diversos assuntos.
Por esse motivo, foram elaborados diversos tratados de beleza. Esses escritos reuniam uma série de características que formavam os padrões de beleza para as mulheres. Conforme essas obras, o padrão de beleza consistia em pele clara, com tons rosados nas bochechas e lábios. O corpo feminino deveria ter formas suaves e arredondadas, demonstrando delicadeza e proporcionalidade.
Não havia tratados de beleza para os homens. As obras de arte da época indicam a valorização do dinamismo e do heroísmo. Ambas as características são importantes para um período marcado por diversas revoluções.
Padrão de beleza atual
O século 19 traz uma série de inovações tecnológicas, inclusive no que diz respeito à reprodução de imagens. Daguerreótipos, fotografias e vídeos começam a fazer parte do cotidiano. Com isso, as imagens são cada vez mais utilizadas para promover os padrões de beleza.
Outra característica marcante dos dias atuais está na velocidade das mudanças em diversas áreas da vida. Em conformidade com isso, os padrões de beleza mudam numa rapidez impressionante.
Anteriormente, cada século tinha seu próprio padrão estético. A partir do século 20, entretanto, os modelos de beleza apresentam mudanças drásticas a cada década. Essa velocidade favorece a criação frequente de hábitos de consumo, em uma constante busca pela beleza.
Nos dias atuais, temos acesso a uma quantidade de imagens jamais vista na história. Há uma enorme exposição de corpos e de rostos nos meios de comunicação. Por um lado, temos o uso frequente de filtros de imagem e de procedimentos estéticos. Eles ajudam a propagar ideias de beleza irreais ou muito difíceis de serem atingidos.
Por outro lado, as redes sociais e a facilidade de entrar em contato com um grande número de pessoas trazem um grande benefício. Cada vez mais pessoas mostram corpos e rostos diversos e reais, questionando e desafiando os padrões de beleza hegemônicos.
Outro ponto importante foi o surgimento de movimentos como o Body Positive. A saúde, o bem estar e a autoestima das pessoas passam a ser priorizados em lugar da incessante busca por uma suposta beleza.
Padrão de beleza ao redor do mundo: é o mesmo em todo lugar?
O padrão de beleza pode variar bastante em cada sociedade e em cada cultura. Descubra mais sobre os diferentes padrões estéticos ao redor do mundo.
Qual o padrão de beleza do Brasil?
O Brasil é um país de dimensões continentais, com enorme diversidade social, econômica e cultural. Sendo assim, dificilmente podemos falar em um único padrão de beleza para definir todo o território nacional.
Algumas pesquisas apontam para o fato de que a população brasileira valoriza bastante a beleza física. Embora o Brasil tenha uma grande diversidade de tipos físicos, os corpos curvilíneos estão entre os mais valorizados.
Mas é preciso ter em mente que há outros padrões de beleza no território nacional. Nas sociedades indígenas do Alto Xingu, por exemplo, a magreza não é um atributo desejável.
Os homens devem ser grandes, com braços, tórax e pernas largos. As mulheres devem ter corpo mediano, de preferência com seios pequenos.
Entre os Kayapó, que habitam Mato Grosso e o Sul do Pará, a beleza não pode ser reduzida ao aspecto físico. Fatores como o jeito de caminhar, a alegria e a desinibição são essenciais para que uma pessoa seja considerada bela.
O uso de adornos, plumas e pinturas corporais é considerado bastante importante para realçar a beleza física de todas as pessoas. Mas os discos colocados no lábio inferior são de uso exclusivo dos homens.
Esses discos simbolizam a capacidade de expressão verbal, atributo masculino bastante valorizado. O Cacique Raoni, importante ambientalista e ativista da luta pelos direitos dos povos originários, aparece frequentemente com o acessório.
Padrão de beleza Mursi
O Vale do Omo é uma região etíope que abriga diversas tribos nativas. Dentre elas, estão os Mursi, grupo nômade que vive da pecuária.
O padrão de beleza Mursi está ligado à modificação corporal. Durante a adolescência, as meninas passam a utilizar um disco de argila no lábio inferior. Ao longo dos anos, o tamanho do disco vai aumentando gradativamente.
A decisão sobre o tamanho final do disco cabe a cada mulher. De forma geral, quanto maior o disco, mais a mulher é considerada bonita. Mas é necessário tomar bastante cuidado durante o processo. Caso a pele do lábio inferior seja rompida, a mulher fica impedida de se casar.
Atualmente as jovens podem escolher se desejam ou não colocar o disco. Muitas mulheres Mursi valorizam o uso dos discos, pois eles marcam o início da idade adulta.
Padrão de beleza Surma
Outra tribo que vive no Vale do Omo, na Etiópia, são os Surma. O padrão de beleza deles está associado à escarificação. Trata-se de marcas deixadas na pele com uso de lâminas ou navalhas.
Os cortes são feitos em meninos e meninas, durante a adolescência. É um momento cerimonial, que marca o fim da infância. Quanto mais marcas uma pessoa tem, mais ela é considerada bonita.
A escarificação tem diversos padrões e pode ser feita no rosto ou no corpo. As marcas na testa, entretanto, possuem um significado bastante especial. Elas marcam a transição de menino para homem.
A escarificação faz parte do padrão de beleza de diversos povos no continente africano. Cada uma dessas sociedades tem seus conceitos e regras sobre como essas marcas são feitas. O fotógrafo Eric Lafforgue registrou uma grande diversidade de indivíduos que passaram por este processo.
Padrão de beleza nigeriano
Um dos países que mais valorizam a beleza física é a Nigéria. De acordo com uma pesquisa realizada em 2022, mais de 70% da população feminina investe tempo e dinheiro na aparência.
Os padrões estéticos nigerianos valorizam a pele escura, que deve ser lisa, sem manchas ou sinais. O cabelo deve ser volumoso e com brilho. Em relação ao corpo, a silhueta ideal é curvilínea, com seios e quadris arredondados e nádegas volumosas.
Padrão de beleza coreano
A juventude é extremamente valorizada na estética coreana. Por este motivo, os atributos que fazem parte do padrão de beleza costumam ter relação com a jovialidade, com a inocência e com a ingenuidade.
O rosto ideal é pequeno, com olhos grandes e pele clara. O queixo e o nariz devem ser pequenos e estreitos. Para as mulheres, a silhueta ideal deve ser magra, com poucas curvas. As pernas e braços devem ser longos e finos, complementando o corpo esguio.
Para os homens coreanos, a silhueta longilínea e a juventude são igualmente desejáveis. Por isso, o rosto deve ser liso, sem pelos. Os cabelos devem ser bem cortados e cuidadosamente arrumados.
Padrão de beleza japonês
A beleza no Japão está associada à delicadeza e à graciosidade. Um conceito importante para o padrão de beleza japonês está na palavra “kawaii”, um adjetivo que significa “fofo”, “adorável” ou “amável”. Quase tudo pode ser qualificado como “kawaii”: aparência, objetos, atitudes, roupas, entre outros.
As mulheres consideradas bonitas no Japão são aquelas que possuem a aparência e o comportamento “kawaii”. Dessa forma, são valorizados a pele clara, olhos graúdos, e maquiagem que dê aparência de aspecto natural, sem intervenção cosmética. A silhueta deve ser magra, sem excesso de curvas.
Padrão de beleza chinês
A cultura e a tradição influenciam profundamente os ideais estéticos chineses. Pele clara, boca e lábios pequenos, queixo delicado e olhos amendoados com cílios longos fazem parte do padrão de beleza. O rosto pequeno, em formato de coração, é considerado feminino e delicado.
Assim como ocorre em outros países orientais, as pálpebras duplas são extremamente valorizadas. Há diversos produtos e cirurgias para transformar as pálpebras orientais, adequando os olhos ao padrão de beleza.
Padrão de beleza italiano
Assim como ocorre em diversos países da Europa, o corpo feminino ideal é magro, com seios grandes e pernas compridas.
O tom de pele ideal é bronzeado, com brilho dourado. Os lábios volumosos, com batons de cores fortes são considerados particularmente belos. Os olhos também são destacados com uso de rímel e delineador. Os cabelos costumam ser compridos e volumosos.
Para os italianos, a atitude é fundamental para a beleza. Independente da aparência física, a autoconfiança e o charme são importantes para que uma pessoa seja considerada bonita.
Padrão de beleza tailandês
A tribo Baan Tong Luang, que vive na Tailândia, é conhecida pelas mulheres que usam diversos aros dourados em volta do pescoço, pulsos e pernas.
Nem todas podem utilizar estes acessórios. Há regras bem específicas, inclusive em relação ao dia da semana e à fase da lua em que a mulher nasceu. Por este motivo, mesmo dentro da tribo, poucas pessoas utilizam os aros dourados no corpo.
A colocação dos anéis tem início por volta dos cinco anos de idade. A partir daí, a menina acrescenta um anel por ano ao pescoço, até chegar aos quarenta anos. Com o passar do tempo, o corpo se modifica e o pescoço se torna bastante alongado.
Mais do que um padrão de beleza, trata-se de uma tradição cultural milenar, preservada até os dias de hoje.
Quais são os efeitos do padrão de beleza imposto pela sociedade
O padrão de beleza pode ter um impacto significativo na vida das pessoas. Vamos entender um pouco melhor como isso acontece.
Como o padrão de beleza afeta os jovens
O padrão de beleza hegemônico pode trazer diversos impactos para as pessoas mais jovens. De acordo com o psicólogo Michel Simões, há uma grande insatisfação com a própria imagem. Isso faz com que muitos jovens se sintam incapazes de atender às expectativas sociais.
Simões explica que as pessoas mais jovens são particularmente atingidas pelos padrões de beleza. Para o psicólogo, as redes sociais compartilham corpos e estilos de vida perfeitos, que não correspondem à realidade.
A tendência, entretanto, é que o público acredite que é perfeitamente possível alcançar estes padrões. Com isso, as pessoas começam a acreditar que aqueles que não correspondem aos padrões de beleza são imperfeitos. Isso causa a sensação de insuficiência e de incapacidade em pessoas que estão fora dos ideais estéticos.
Uma das consequências é a grande procura por procedimentos estéticos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, nosso país tem uma grande procura por intervenções cosméticas, especialmente entre a população mais jovem.
As psicólogas Amliz Lopes e Érika Mendonça explicam que os jovens costumam colocar muitas expectativas na autoimagem. Isso ocorre devido ao ideal cultural que estabelece uma relação direta entre juventude e beleza.
Dessa forma, os jovens buscam alcançar os padrões impossíveis devido à promessa entre o corpo perfeito e a felicidade. Acontece que a satisfação com a própria imagem jamais é alcançada, o que gera sentimentos profundos de inadequação, frustração, angústia e sofrimento.
Como o padrão de beleza afeta os mais velhos
A gerontologista Nádia Ferreira explica que a beleza jovial é cada vez mais valorizada socialmente. De forma que as demais competências dos indivíduos são colocadas em segundo plano. Por isso, as pessoas mais velhas se tornam socialmente estigmatizadas pelo fato de estarem fora dos padrões de beleza.
Com isso, a tendência é que uma parte dessa população tente disfarçar a própria idade. O objetivo é tentar se encaixar nos padrões e obter aceitação social. Outro ponto importante é que, quando algumas pessoas percebem que estão fora dos padrões de beleza, há um intenso sofrimento psíquico e uma diminuição da autoestima.
Ferreira explica que a autoimagem é um componente essencial da consciência de cada indivíduo. As mudanças físicas causadas pela idade são vistas de forma negativa em nossa sociedade, afetando a autoimagem das pessoas.
Por isso, ainda que o envelhecimento seja um processo natural, ele pode causar angústias, mal estar, vergonha ou sentimento de inferioridade. Quando a autoimagem se encontra muito ligada aos padrões de beleza, o envelhecimento pode levar também à perda da identidade.
Por que o padrão de beleza é mais cruel com as mulheres?
Em O Mito da Beleza, Naomi Wolf explica que, embora haja padrões de beleza para todas as pessoas, os efeitos são bem diferentes para as mulheres.
Isso porque, em uma sociedade patriarcal, o padrão de beleza é uma importante ferramenta para a manutenção do domínio masculino. As mulheres são colocadas em uma hierarquia baseada no padrão de beleza.
Em outras palavras, quanto mais uma mulher se encaixa no padrão de beleza, maior é o seu valor perante a sociedade. Dessa forma, o sistema patriarcal faz com que as mulheres entrem em competição umas com as outras.
Essa competição é estimulada para promover a divisão entre as mulheres. Dessa forma, o padrão de beleza impede o surgimento e fortalecimento de laços de solidariedade e de amizade.
Wolf esclarece, ainda, que o padrão de beleza é criado para manter o comportamento, não a aparência. As qualidades valorizadas como belas na sociedade patriarcal estão diretamente ligadas a símbolos do comportamento feminino que um determinado período julga como desejáveis.
Como se tudo isso não fosse o suficiente, a identidade da mulher ocidental deve ter por base o fato de que ela pode ser considerada bonita, de acordo com o padrão.
Isso faz com que a autoestima das mulheres se torne particularmente vulnerável. Elas se tornam cada vez mais dependentes da aprovação externa, o que beneficia diretamente os homens e reforça o sistema de opressão.
Padrão de beleza e cultura pop: 15 dicas para você
Você quer saber mais sobre os padrões de beleza? Confira algumas obras que podem ajudar nessa reflexão.
5 filmes sobre padrão de beleza
- Preciosa: Mostra a vida de uma adolescente pobre, negra e obesa, que não sabe ler nem escrever. Seu cotidiano é marcado por diversas violências e abusos, dentro e fora de casa. Esse filme aborda, entre outras coisas, o quanto a personagem se sente abalada por não corresponder ao padrão de beleza.
Onde assistir: Amazon Prime
- Pequena Miss Sunshine: Olive é uma criança de aparência natural que tem um sonho: competir em um concurso de beleza infantil. Sua família se reúne para apoiá-la. Em meio a diversas situações inusitadas, o filme mostra como os concursos de beleza colocam padrões irreais para crianças pequenas.
Onde assistir: Star +; Disney Plus
- Barbie: Sem dúvida a boneca Barbie corresponde ao padrão de beleza hegemônico. Neste filme, ela tem a vida perfeita, no lugar perfeito, com amigos perfeitos. Porém, um dia, tudo isso parece desmoronar. Barbie decide, então, fazer uma jornada até o mundo real para tentar resolver seus problemas.
Onde assistir: Amazon Prime; Apple TV; Google Play; YouTube
- Pelo Malo: Junior é um menino de cabelos crespos que sonha em ter cabelos lisos, iguais aos de um cantor. Enquanto isso, a mãe de Júnior luta para tentar sustentar a família. Ela fica cada vez mais preocupada com a atenção que o menino dedica à própria aparência.
Onde assistir: Amazon Prime; YouTube; Apple TV
- Gia: Será que estar dentro dos padrões de beleza é sinônimo de sucesso e de felicidade? O filme mostra a vida e carreira de Gia Carangi, uma das maiores supermodelos da década de 1980. Com o passar do tempo, a pressão para ser perfeita começa a corroer a saúde mental de Gia.
Onde assistir: Amazon Prime, HBOMax
5 séries que falam sobre padrão de beleza
- Glow: O padrão de beleza feminino, em muitas culturas, está ligado à delicadeza, graciosidade e fragilidade. Atributos que, na maior parte das vezes, não são associados a esportes como lutas. Essa série desafia esse paradigma ao mostrar o cotidiano de um grupo de praticantes de luta livre durante a década de 1980.
Onde assistir: Netflix
- Orange Is The New Black: A série mostra o cotidiano em uma prisão feminina de segurança mínima. Essa produção é interessante porque, durante décadas, apenas pessoas com um determinado tipo físico apareciam em filmes e séries. A série subverte isso radicalmente, mostrando atrizes das mais variadas idades e biotipos.
Onde assistir: Netflix
- Cougar Town: O padrão de beleza está bastante ligado à juventude, especialmente quando o assunto é sexualidade feminina. Essa série mostra, de forma leve, o cotidiano de três mulheres na faixa dos 40 anos. Elas querem se divertir e namorar, mas precisarão lidar com o preconceito relacionado ao envelhecimento.
Onde assistir: Star+
- Pose: Quais são os padrões de beleza na comunidade LGBTQIAP+? A série mostra um grupo de pessoas afro-americanas e hispânicas na Nova Iorque de 1980. O grupo tece relações de amizade e de solidariedade. Ao mesmo tempo, aparece a construção coletiva e individual das identidades através de diversas estratégias. O que inclui a imagem e a apresentação pessoal.
Onde assistir: Star+
- This is Us: Até que ponto a aparência afeta as vivências pessoais de cada indivíduo? A série mostra três irmãos: um homem branco, um homem negro e uma mulher branca e obesa. Embora os três tenham sido criados nas mesmas condições e pela mesma família, suas experiências são radicalmente diferentes entre si.
Onde assistir: Amazon Prime; Star +
5 livros sobre padrão de beleza
- História da Beleza: Essa edição primorosa e ricamente ilustrada mostra como o conceito de beleza foi construído ao longo da história ocidental. O organizador, Umberto Eco, tem um enorme conhecimento sobre arte e filosofia. O livro aborda o conceito de beleza como um todo, investigando desde o seu surgimento até os dias de hoje.
- O Mito da Beleza: A jornalista e feminista Naomi Wolf explica porque o padrão de beleza é ferramenta de opressão patriarcal. Ela fala sobre a pressão para que as mulheres se encaixem nos padrões estéticos e sobre como isso afeta a vida de todas.
- Grotescas: Na sociedade japonesa as mulheres sofrem uma enorme pressão para se encaixar nos padrões de beleza. O livro mostra como isso afeta quatro personagens, desde a adolescência até a idade adulta. O grupo é composto por duas personagens de aparência mediana, uma jovem considerada excepcionalmente bela e sua irmã, considerada feia.
- Feios: O que acontece em uma sociedade onde todos se encaixam nos padrões de beleza? A série de livros, que conta com quatro volumes, mostra um futuro distópico. Todas as pessoas conseguem ter a aparência que desejam quando chegam na adolescência. Porém, muitos problemas se escondem por trás desse mundo aparentemente perfeito.
- Se Esse Rosto Fosse Meu: Esse romance coreano mostra o cotidiano de quatro jovens sul-coreanas de classe média baixa. O livro mostra desigualdades sociais e econômicas, obsessão pela beleza e opressão causada pelos papéis tradicionais de gênero. Tudo com uma escrita envolvente, que prende a leitura até a última página.
5 músicas que falam sobre padrão de beleza
- Pretty Hurts: Beyoncé faz uma crítica contundente sobre os padrões de beleza inalcançáveis e seus efeitos na autoestima.
- Born this way: Este hino à diversidade fala sobre a importância da autoaceitação e da autoestima, independente de quaisquer padrões de beleza.
- Máscara: Pitty critica a superficialidade das aparências, valorizando a individualidade e a essência de cada pessoa.
- Beleza Pura: Caetano Veloso propõe, em seu canto, diversos atributos que contribuem para a beleza das pessoas brasileiras.
Como eu quero: Beleza e sensualidade são sinônimos? Paula Toller canta sobre o desejo por uma pessoa. Mas não há nenhuma menção à aparência física ou à beleza da pessoa em questão.